O Projeto Curas (http://www.projetocuras.com.br) é uma plataforma de registros que envolve processos de pesquisa, documentação, construção e circulação de acervos afetivos, familiares e artísticos, tendo em vista principalmente experiências e presenças afro-indígenas de nossa cidade, Poços de Caldas, no nosso território sul-mineiro – e atualmente com amplitude do trabalho de pesquisa para outras regiões do sudeste e nordeste.
Nossos processos de criação e pesquisa no campo audiovisual, das artes visuais, da fotografia, da literatura e da educação vêm sendo realizados no Sul de Minas Gerais desde 2018 – incluindo cidades como Poços de Caldas, Caldas, Três Pontas, Machado, Guapé, Alfenas, Cabo Verde e entornos vizinhos. Atualmente, dado a atividades inter-regionais e bolsas de intercâmbio alcançadas pela equipe, ele tem se expandido para novas experiências em parceria com outros Estados, territorialidades, instituições e coletivos que dialogam com nossos fazeres. Durante esses processos, vamos compreendendo o valor das produções comunitárias e de projetos culturais intergeracionais que nascem no cotidiano das comunidades. Dos terreiros, as associações congadeiras, dos grupos de capoeira, dos quilombos e de todas as organizações que são em si formas de aquilombamento, cuidado e fortalecimento coletivo no campo da cultura, especificamente no campo do cinema, do audiovisual, das artes visuais e das linguagens.
Nosso trabalho enquanto cocriadoras e cocriadores se estrutura a partir de produções artísticas e documentais compartilhadas, que são realizadas tendo em vista as memórias e perspectivas pessoais dos envolvidos e envolvidas na concepção de cada iniciativa cultural que executados. Além disso, nossas ações, produtos culturais e eventos organizados, assim como a própria plataforma de acervo estabelecem diálogos entre o campo do cinema, da literatura, das artes visuais, das comunidades tradicionais e também com acervos institucionais de Museus (como o Museu Histórico Geográfico de Poços de Caldas – MG), cartórios municipais, fóruns e plataformas nacionais de pesquisa, como o acervo do Arquivo Nacional e o Arquivo Público Mineiro
Sobre as temáticas abordadas, atuação criadora do Projeto Curas se estabelece com base nas experiências espirituais vivenciadas pelas pessoas que compõem os territórios pesquisados, principalmente a partir das identidades negras e indígenas que aqui se estabeleceram desde o período colonial. Dessa maneira, e também partir da nossa própria comunidade tanto quanto em diálogo com outras comunidades, associações e famílias cocriadoras, nós construímos acervos visuais entrelaçando saúde, fé, devoção e saberes passados de geração a geração, assim como perspectivas históricas acerca dos territórios, tendo em vista debates e ações direcionadas às políticas de reparação, direito à memória, equidade racial e processos de descolonização dos imaginários institucionais que povoam o cotidiano dos territórios.
Desta maneira, o Projeto Curas trabalha a partir de uma perspectiva de reconstituição e circulação dos acervos audiovisuais, das memórias e dos saberes, expondo experiências e composições sociais que em grande medida não estão representadas nos acervos institucionais/ formais da região sul mineira, ou aparecem de maneira exotizada/estigmatizada. Experiências sociais que historicamente foram e são afetadas por políticas de embranquecimento que não reconhecem a expressão das presenças afro-indígenas no território, vivenciando no campo representacional e das linguagens as consequências do racismo estrutural.
Atualmente, ganhamos destaques no contexto nacional, desde premiações com o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, ofertada para nós pelo IPHAN em sua 36° edição, tanto quanto a partir de fomentos internacionais recebidos, participação em mostras, festivais, congressos e encontros inter-regionais.
